“Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na sistematização dessas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo.” (Júlio Garganta)
Chegamos à terceira fase da construção de um modelo de jogo a implementar numa equipa de futebol. Abordaremos a organização funcional do modelo de jogo/equipa.Entenderemos por organização funcional as características básicas de como uma equipa actua perante determinados momentos do jogo, basicamente será o encaixar e coordenar de todos os princípios e sub princípios inerentes ao modelo que o treinador pretende implementar.
Seguindo a estrutura dos princípios de jogo apresentada no post anterior e adaptada de Queiroz, 1983, sub-dividimos o jogo em momentos base como as acções de ataque e defesa.
É pacificamente aceite entre os treinadores que o jogo tem não dois mas, pelo menos, 4 momentos chave (a ordem inicial é irrelevante já que os momentos se encadeiam e se sucedem):
Momento 1: Organização Ofensiva
Objectivos | - Manutenção da posse de bola |
- Criação de acções de progressão e finalização |
Fases | Fase | Descrição | |
Construção da acção ofensiva | Desenvolvimento de jogada com intuíto de progredir no terreno | ||
Criação de situações de finalização | Tentativa de criar situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso | ||
Finalização | Culminar do momento ofensivo, com a finalização |
Feliz ou infelizmente, dependendo do banco onde nos sentamos, nem todas as jogadas chegam á fase de finalização. Quando a nossa equipa perde a bola os instantes seguintes são determinantes...
Momento 2: Transição Ataque - Defesa
Estes momentos de transição são tão ou mais importantes que os momentos mais habituais no jogo, ataque e defesa. Dependerá muito de como a nossa equipa se encontra organizada e da cabal compreensão das tarefas que cabem a cada elemento. Não sendo possível que o mesmo jogador ocupe simultaneamente 2 espaços diferentes no campo (aqueles que lhe caberiam nas acções ofensivas e nas acções defensivas) há que criar automatismos que permitam reestabelecer a organização da equipa.
No futebol actual as transições assumem um papel decisivo na batalha táctica.
Objectivos | - Aplicar de imediato o principio específico de CONTENÇÃO |
- Permitir a reorganização defensiva da equipa |
A partir do instante em que a equipa "desliga" da acção ofensiva e consegue equilibrar-se defensivamente entramos no novo momento do jogo
Momento 3: Organização Defensiva
Objectivos | - Defesa da baliza |
- Recuperação da posse de bola |
Fases | Fase | Descrição | |
Impedir a construção da acção ofensiva | Evitar a progressão do adversário | ||
Impedir situações de finalização | Não permitir ao adversário situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso | ||
Defesa da Baliza | Não obtendo sucesso nas acções anteriores temos o último "recurso", defender a baliza |
Conseguido 1 dos objectivos do momento defensivo, recuperar a bola e/ou defender a baliza com sucesso, a equipa vai tentar aproveitar o facto de o adversário estar ainda no "desligar" da sua acção ofensiva para tentar ser mais eficaz na construção do seu ataque
Momento 4: Transição Defensa-Ataque
Tal como na transição Ataque-Defesa, este momento pode ser decisivo para o resultado final do jogo, é aliás muito comum ouvirmos que "o adversário aproveitou o facto da equipa estar balanceada no ataque, estar descompensada..."
Objectivos | - Aplicar de imediato o principio específico de PENETRAÇÃO |
- Organizar a acção ofensiva com maiores possibilidades de sucesso |
Referimos atrás que era consensual a existência de "pelo menos" 4 momentos no jogo, no entanto já ouvi Jorge Jesus, sem data, referir um outro momento, muitas vezes decisivo, a que se dando importância no treino não se refere com parte integrante do que Júlio Garganta referiu "entender o jogo como um fluxo continuo."
Momento 5: Bolas Paradas
Parece-me que Jorge Jesus terá alguma razão, os lances de bolas paradas são, cada vez mais, decisivos no jogo e por terem um tratamento especifico e mais ponderado acabam por ter importância vital em qualquer um dos outros momentos. Não são as bolas paradas alvo de estudo, e treino, ao longo da época? Quantas vezes já ouvimos dizer "um livre à..."? Existe ou não algo de pessoal na forma como pretendemos que a nossa equipa marque/defenda um canto ou um livre?
Juntando a tudo isso ainda temos o facto de um lance de bola parada não ser um momento isolado, já que muitas das vezes não terá um "principio, meio e fim" já que a intercepção da bola e a sua alternância podem significar um novo processo. Quem já não ouviu referir que "fulano" fez falta porque estava na barreira, ou até que o adversário tinha caminho livre porque os centrais foram à área adversária para participarem na marcação de um canto a favor da sua equipa?
Tarefa do treinador é desenvolver processos de treino que permitam à equipa manter-se organizada e funcional em todos estes processos.
Ainda longe de encontrar o modelo de jogo a adoptar, o treinador tem já, por esta altura, um trabalho ainda que invisivel de elevada complexidade...
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