quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Organização Funcional

“Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na sistematização dessas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo.” (Júlio Garganta)
Chegamos à terceira fase da construção de um modelo de jogo a implementar numa equipa de futebol. Abordaremos a organização funcional do modelo de jogo/equipa.

Entenderemos por organização funcional as características básicas de como uma equipa actua perante determinados momentos do jogo, basicamente será o encaixar e coordenar de todos os princípios e sub princípios inerentes ao modelo que o treinador pretende implementar.

Seguindo a estrutura dos princípios de jogo apresentada no post anterior e adaptada de Queiroz, 1983, sub-dividimos o jogo em momentos base como as acções de ataque e defesa.
É pacificamente aceite entre os treinadores que o jogo tem não dois mas, pelo menos, 4 momentos chave (a ordem inicial é irrelevante já que os momentos se encadeiam e se sucedem):

Momento 1: Organização Ofensiva


Objectivos
- Manutenção da posse de bola
- Criação de acções de progressão e finalização


Fases

Fase
Descrição
Construção da acção ofensiva
Desenvolvimento de jogada com intuíto de progredir no terreno
Criação de situações de finalização
Tentativa de criar situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso
Finalização
Culminar do momento ofensivo, com a finalização

Feliz ou infelizmente, dependendo do banco onde nos sentamos, nem todas as jogadas chegam á fase de finalização. Quando a nossa equipa perde a bola os instantes seguintes são determinantes...

Momento 2: Transição Ataque - Defesa

Estes momentos de transição são tão ou mais importantes que os momentos mais habituais no jogo, ataque e defesa. Dependerá muito de como a nossa equipa se encontra organizada e da cabal compreensão das tarefas que cabem a cada elemento. Não sendo possível que o mesmo jogador ocupe simultaneamente 2 espaços diferentes no campo (aqueles que lhe caberiam nas acções ofensivas e nas acções defensivas) há que criar automatismos que permitam reestabelecer a organização da equipa.
No futebol actual as transições assumem um papel decisivo na batalha táctica.


Objectivos
- Aplicar de imediato o principio específico de CONTENÇÃO
- Permitir a reorganização defensiva da equipa

A partir do instante em que a equipa "desliga" da acção ofensiva e consegue equilibrar-se defensivamente entramos no novo momento do jogo

Momento 3: Organização Defensiva

Objectivos
- Defesa da baliza
- Recuperação da posse de bola


Fases

Fase
Descrição
Impedir a construção da acção ofensiva
Evitar a progressão do adversário
Impedir situações de finalização
Não permitir ao adversário situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso
Defesa da Baliza
Não obtendo sucesso nas acções anteriores temos o último "recurso", defender a baliza

Conseguido 1 dos objectivos do momento defensivo, recuperar a bola e/ou defender a baliza com sucesso, a equipa vai tentar aproveitar o facto de o adversário estar ainda no "desligar" da sua acção ofensiva para tentar ser mais eficaz na construção do seu ataque

Momento 4: Transição Defensa-Ataque

Tal como na transição Ataque-Defesa, este momento pode ser decisivo para o resultado final do jogo, é aliás muito comum ouvirmos que "o adversário aproveitou o facto da equipa estar balanceada no ataque, estar descompensada..."

Objectivos
- Aplicar de imediato o principio específico de PENETRAÇÃO
- Organizar a acção ofensiva com maiores possibilidades de sucesso

Referimos atrás que era consensual a existência de "pelo menos" 4 momentos no jogo, no entanto já ouvi Jorge Jesus, sem data, referir um outro momento, muitas vezes decisivo, a que se dando importância no treino não se refere com parte integrante do que Júlio Garganta referiu "entender o jogo como um fluxo continuo."

Momento 5: Bolas Paradas

Parece-me que Jorge Jesus terá alguma razão, os lances de bolas paradas são, cada vez mais, decisivos no jogo e por terem um tratamento especifico e mais ponderado acabam por ter importância vital em qualquer um dos outros momentos. Não são as bolas paradas alvo de estudo, e treino, ao longo da época? Quantas vezes já ouvimos dizer "um livre à..."? Existe ou não algo de pessoal na forma como pretendemos que a nossa equipa marque/defenda um canto ou um livre?
Juntando a tudo isso ainda temos o facto de um lance de bola parada não ser um momento isolado, já que muitas das vezes não terá um "principio, meio e fim" já que a intercepção da bola e a sua alternância podem significar um novo processo. Quem já não ouviu referir que "fulano" fez falta porque estava na barreira, ou até que o adversário tinha caminho livre porque os centrais foram à área adversária para participarem na marcação de um canto a favor da sua equipa?

Tarefa do treinador é desenvolver processos de treino que permitam à equipa manter-se organizada e funcional em todos estes processos.

Ainda longe de encontrar o modelo de jogo a adoptar, o treinador tem já, por esta altura, um trabalho ainda que invisivel de elevada complexidade...

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