quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal

FELIZ NATAL


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Periodização do treino II - Periodização convencional

Futebol é assim: Treino é treino, jogo é jogo
Valdir Pereira “Didi” – jogador e técnico

Fácil perceber que se é tratada por “convencional”, é a mais usual mais unanimemente aceite.

A partir do modelo base de Metveev, foram-se desenvolvendo modelos mais específicos e condizentes com a realidade actual. Na generalidade, com ou sem variante de denominação, os modelos convencionais usam conceitos enraizados
- Pré-época
- Período competitivo
- Forma e picos de forma
- Volume vs Intensidade
- Cargas físicas
- Divisão entre trabalho técnico, táctico e psicológico

No planeamento da época (periodização) entram os 3 períodos básicos
- Período preparatório, vulgo pré-época, onde se privilegia a aquisição de componentes abstractas, predominantemente físicas, resistência e velocidade onde se alicerçará todo o trabalho das fases seguintes. Privilégio das cargas físicas progressivas, inicialmente de baixo volume que vão aumentando até um valor máximo onde a componente física é exacerbada em detrimento das componentes táctica e técnica. Objectivo primordial é aquisição da forma física.
- Período competitivo, época desportiva, diminuição do volume de treino com consequente aumento da intensidade. Supostamente a forma física foi adquirida no período preparatório, a preocupação é a sua manutenção. Divisão da fase em ciclos, procuram-se “picos de forma”, é em busca desses que se programa a manutenção e/ou reconstrução da forma física ao longo da época, baseando-se no efeito retardado das cargas físicas. Os aspectos tácticos e técnicos, treino específico, adquirem neste período a importância máxima. Sempre baseados em princípios de manutenção da forma física. Basicamente o pensamento é “precisamos de estar no máximo das nossas capacidades no período (mês, semana, mesociclo…) X, trabalhamos os aspectos físicos com antecipação para, no máximo da forma física, estarmos aptos a desenvolver o trabalho mais específico”.
- Período de transição, “férias”, a principal preocupação é conseguir obter um efeito optimizado entre descanso e manutenção de capacidades físicas básicas que permitam encarar o próximo período preparatório com condições globalmente satisfatórias a nível físico, psíquico e motivacional.

Na periodização convencional verificamos uma predominância do factor “forma física”, a época é trabalhada em função dos períodos de aquisição, manutenção ou reconstrução desta componente. O trabalho táctico e técnico é suportado pelo trabalho físico entretanto desenvolvido.
Não é por isso de estranhar que o resultado do treino baseado na periodização convencional seja, predominantemente, obtido pela soma das partes. É comum falar-se em “estar bem fisicamente mas ainda ter muito que trabalhar em termos tácticos”, ou até que “a equipa está a decair de forma nos últimos jogos”…
Os seus seguidores, a generalidade dos treinadores, defende o facto de assim se conseguir uma programação global da época onde se identificam facilmente os aspectos a trabalhar em cada período, sendo por isso possível obter “picos de forma” quando necessário.
Os seus detractores defendem que a divisão da época em fases nem sempre coincide com a realidade competitiva ou com as necessidades da equipa. De que me serve programar um “pico de forma” para Fevereiro se em Janeiro a equipa não conseguir corresponder ás minhas expectativas, podendo até tornar inútil o tal “pico de forma”?

Dissemos atrás que o resultado obtido no treino baseado na periodização convencional é uma soma de partes, física, táctica, técnica e psicológica. A periodização convencional é, pela sua própria essência, um terreno propicio à aplicação da metodologia de treino integrado onde se individualizam as componentes para a partir daí construir o jogo.

Falaremos do treino integrado no próximo post.

“O futebol depende de estado atlético e também não é mais possível não saber jogar sem a bola – o mundo mudou, o futebol também”
Eugénio Figueiredo – dirigente uruguaio e da Conmebol

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Periodização do Treino

Uma teoria não é o conhecimento, ela permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada, é a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução, é a possibilidade de tratar um problema. Uma teoria só cumpre o seu papel cognitivo, só adquire vida, com o pleno emprego da actividade mental do sujeito. Edgar Morin (2003)

Todo e qualquer trabalho exige planeamento, método e tempo. A mais simples tarefa que possamos executar engloba estas componentes. Para tomar um café seguimos uma determinada sequência de actos, desde o colocar ou não açucar até ao acto de bebida propriamente dita. Ainda que mecanizados esta sequencia foi há muito planeada, pensada e testada (ainda se lembram como deitavam o açucar fora da chavena nas primeiras tentativas?).Na organização de um treino de futebol é necessário exactamente o mesmo, planeamento, método e tempo.
Falamos nos posts anteriores do planeamento (construção do modelo de jogo, pressupostos básicos de treino...) falaremos de seguida em métodologia  e tempo.

Porque se fala em pré-época, periodo competitivo, picos de forma? Precisamente porque existe planeamento, metodologia e tempos a descobrir e cumprir.

Usualmente designado com o pai do treino desportivo Lev Pavilovch Matveev criou diversos conceitos que perduram até hoje baseando-se nos principios de que um atleta tem de construir, manter e perder a sua forma desportiva ao longo de um ciclo competitivo (1961, 1977, 1981, 1986).
O ciclo competitivo proposto por Matveev dividia-se em 3 grandes fases que acabaram por se generalizar e ainda hoje são tidas como os 3 grandes períodos do treino desportivo.
- Periodo preparatório, fase de aquisição/ construção de forma desportiva
- Periodo competitivo, fase de manutenção
- Periodo transitório, fase de perda de forma desportiva.


No gráfico de Metveev temos em consideração volume e intensidade (linhas superiores I e Ia) e as linhas dinamicas de cargas (linhas inferiores II e IIa).
Apesar dos conceitos básicos introduzidos, este modelo foi-se tornando obsoleto, obviamente, demasiado rigido para alguns, demasiado universal para outros. Certo é que criou linhas orientadoras a partir das quais se foi evoluindo, daí a sua actual importância.

Dos modelos mais contemporâneos criados a partir de Matveev  destaca-se Tudor Bompa que propõe modelos mais específicos para os desportos a treinar e leva em conta a sobrecarga da calendarização desportiva actual.

Com o desenvolvimento crescente de competitividade os modelos foram-se adaptando à realidade de cada desporto.
Actualmente a "discussão" acerca da periodização e metodologia no treino de futebol situa-se em torno de 3 questões básicas:
Periodização convencional - Modelos de treino baseados e adptados da proposta de Metveev, once imperam os clicos.
Treino integrado - Metodologia onde o treinador desmonta o jogo e treina as suas diversas componentes separadamente. O jogo constroi-se a partir do treino.
Periodização tactica - Metodologia segundo a qual o treino se constroi a partir do jogo. Definindo-se o modelo de jogo procede-se à construção do treino.

Nos postes seguintes abordaremos cada uma dessas questões.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Treino I

"Treinar significa melhorar sob o ponto de vista do jogo. Tendo claramente definido um modelo e os princípios que o orientam, o que acontece diariamente é exacerbação desses princípios em busca da melhoria da qualidade de jogo e daquilo que é a forma de jogo estipulada pelo treinador" Rui Faria, 2003

O sucesso de uma equipa de futebol é um trabalho quase invisível realizado dia após dia. Muitas vezes são os pequenos pormenores de treino que facultam à equipa a possibilidade de tomar a melhor decisão num momento crucial do jogo.
Um treino de futebol é muito mais que agrupar os jogadores com vista à aquisição de forma física ou um espaço onde treinador transmite aos seus jogadores quais as suas ideias. O treino é composto por todas as componentes que se englobam no jogo formal, o aspecto físico, psicológico, condicionantes tácticas e técnicas.

"correr por correr tem um desgaste energético natural, mas a complexidade desse exercício é nula. Como tal, o desgaste em termos emocionais tende a ser nulo também, ao contrário das situações complexas, onde se exige aos jogadores requisitos tácticos, técnicos, psicológicos e físicos. É isto que representa a complexidade do exercício e que conduz a uma concentração maior." José Mourinho


Um período de treino é constituído por ciclos e princípios.

Ciclos, visão estruturar e organizar os diferentes períodos de treino.
Macro ciclo - Período usualmente correspondente a 1 época desportiva
Meso ciclo - Períodos variáveis de 2 a 6 semanas (micro ciclos) onde se treina determinadas variáveis de acordo com etapas próprias.
Micro ciclo - Período semanal de treino, normalmente de jogo a jogo.

Princípios, visam optimizar a performance da equipa/atleta através de um equilíbrio entre esforço/recuperação apropriados com vista á obtenção dos objectivos determinados.

Principio da individualidade biológica - cada atleta é um ser único e deve ser tratado como tal. Se uns atletas são mais "evoluídos" fisicamente outros serão superiores tecnicamente.
Principio da sobrecarga ou progressividade - O corpo sofre alterações decorrentes dos estímulos sofridos (treinos no nosso caso). As cargas ministradas devem ser progressivas permitindo ao corpo adaptar-se até atingir as suas capacidades. O organismo adaptar-se-à mais rapidamente no inicio e abrandará a adaptação á medida que se vai aproximando do seu limite. Muito importante a relação entre cargas (esforço) e recuperação. Excesso de carga conduzirá à exaustão, demasiado tempo de recuperação não elevará a performance do atleta já que o organismo não acumulará a próxima carga no "patamar" óptimo para uma evolução continua.
Principio da continuidade - O factor que assegura a melhoria do rendimento é a continuidade do treino. A continuidade permitirá aplicar o principio da progressão (cargas crescentes) e manter os indices competitivos da equipa.
Principio da inter-dependência entre volume e intensidade - De acordo com os objectivos pretendidos o treino privilegiará volume OU intensidade. Poder-se-á dizer que "volume" será um trabalho de baseado na quantidade geralmente com o intuito de adquirir um background (seja físico, táctico ou técnico) para posteriormente trabalhar a "intensidade" que se traduz numa exigência superior de rapidez (de velocidade, de execução, de raciocínio e decisão...) em detrimento da quantidade, volume, de treino.
Principio da especificidade - o treino deve direccionar-se para o fim especifico a que se destina. No caso do futebol o principio da especificidade abrangerá o treino táctico-técnico.
Principio da variabilidade - Pretender-se-à um treino abrangente em termos físicos, tácticos, técnicos e psicológicos. O treino deverá integrar todos esses itens nos seus exercícios já que quanto mais variáveis se introduzirem no treino, respeitando os princípios anteriores, maior e mais rápido será o desenvolvimento do atleta/equipa e melhor preparado se encontrará perante as situações reais de jogo.


No próximo post será abordada a questão de periodização do treino.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Organização Estrutural

Chegamos ao último dos itens antes considerados, outros não tão mensuráveis existiram certamente, como integrantes do processo de construção de um modelo de jogo. Depois de definido o que pretende da equipa, conhecida a conjuntura do clube e da equipa técnica, decifradas as condições de treino e sabendo quais as características dos jogadores, é tarefa do treinador encontrar uma disposição em campo que, no seu entender, permita à equipa obter o máximo rendimento num jogo de futebol.

Chamamos a esta fase organização estrutural ou sistema táctico.

É normal, mesmo entre treinadores (acredito que por uma questão de comodidade e habito para com a maioria), "resumir" o modelo de jogo a esta fase. Quando ouvimos um treinador a dizer que alterou o "modelo de jogo" na maioria das vezes quer dizer apenas que alterou o sistema táctico.
O sistema táctico é, antes de mais, uma expedita para o treinador comunicar ao jogador a posição onde pretende que este desenvolva a sua acção, a partir da qual vai detalhando a informação fornecida ao jogador sobre a forma como pretende que ele evolua em campo.
que cada sistema táctico tem características próprias, sendo a mais óbvia a forma como teoricamente são preenchidos os espaços em campo. No entanto discordo da opinião generalizada de que este ou aquele sistema táctico é mais ou menos defensivo, tudo dependerá da forma como a dinâmica da equipa.

Cada sistema táctico terá vantagens e desvantagens, desde a ocupação de determinado espaço até ao grau de complexidade e exigência no entendimento entre os jogadores.

Todas as tácticas são boas, tudo depende da forma como são dinamizadas e daquilo que se pretende obter.

Estruturas - Sistemas tácticos mais comuns

4-4-2
-


4-3-3
-

4-4-2 losango
-

4-5-1
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4-1-4-1
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4-2-3-1
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4-1-3-2
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3-5-2
-

5-3-2
-

3-4-3
-




Usualmente as equipas têm um sistema táctico definido e jogam seguindo esse padrão. No entanto é também comum existir um "plano B" (ás vezes mais que isso) para determinadas situações. No fundo isso não será mais que o modelo de jogo do treinador para uma situação específica.


Finalmente o treinador construiu  um modelo de jogo para a sua equipa... um modelo de jogo adaptado (MJA).

Chegado ao fim do processo de construção do modelo de jogo ainda muito há a fazer... treinar!!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Características dos jogadores

"Nas segundas, penso sempre em trocar dez jogadores, às terças sete ou oito, às quintas quatro, às sextas dois. E no sábado penso que têm que jogar os mesmos "cabrones"- John Toshack, ex-treinador do Real Madrid e Sporting C.P.

Continuando nas fases de construção de um "Modelo de Jogo", algo que tem, como todas as outras vertentes, importância crucial são as características do jogadores.

De nada serve a um treinador ter uma ideia de jogo se depois não consegue que os seus jogadores as coloquem em prática. Um plantel é constituído por jogadores de diferentes qualidades futebolísticas, características físicas, sensibilidades perante o jogo, origens sociais, situação económica, etnia, origem geográfica...
Por muito treino que se faça existem características inatas e determinados jogadores que dificilmente se ultrapassam, algumas positivas podem ser melhoradas, as menos positivas atenuadas mas existe sempre algo que distingue este ou aquele jogador dos demais.

Ao treinador cabe integrar todas as diferenças, tão inevitáveis como necessárias à própria equipa, e fazer com que a universal linguagem do futebol seja na sua equipa o mais harmoniosa possível.

Esta tarefa é muitas vezes mais complexa do que aparenta. Muitas vezes o treinador tem de se limitar ao que encontra no clube, principalmente nos escalões de formação e divisões mais baixas, outras mesmo dispondo de alguns recursos não é possível ter todos os jogadores que se gostaria (ainda bem digo eu), e mesmo numa hipotética situação onde isso aconteça é necessário coordenar todos e cada um, sabendo que um plantel é muito mais que a soma de todos os seus elementos, que todos querem jogar e só 11 podem estar em campo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Conjuntura Social e Estrutural do Clube.

Continuemos a abordagem à construção de um modelo de jogo a implementar numa equipa.

Nos posts anteriores abordamos elementos de construção do modelo de jogo que passam, maioritariamente, pela ideia e intenção do treinador em desenvolver um jogo desta ou daquela forma.
Da sua ideia muito pessoal de jogo de futebol, o treinador vai primeiro definir princípios orientadores e posteriormente pormenorizar aquilo que pretende para cada momento do jogo. Acontece que o treinador não está sozinho, por muito claro que lhe seja aquilo que pretende vai defrontar-se com com factores externos difíceis, ás vezes impossíveis, de controlar.
Que clube estou a treinar? Que divisão? Que escalão?
Quais os objectivos para a época? Ser campeão? Não descer? Tentar valorizar alguns jogadores para realizar mais valias? Facultar aos jogadores aprendizagens que lhes permitam "despontar" algumas épocas depois?
Que expectativas têm os dirigentes? e os adeptos?
Qual a identidade social do clube? Local? Regional? Nacional? Mundial?
Que me diz a história do clube? Quem são as referências? Que significam? Qual o peso que têm na forma como o clube encara o futebol?
Qual a realidade económica e estrutural do clube?
O clube tem um estilo de jogo bem definido e marcado? É compatível ou contrário ao modelo que idealizo?
Que condições de treino disponho? Que material e espaço? E médicos, massagistas, fisioterapeutas?
Que colaboração terei de adjuntos? Pensam o jogo de modo similar ao meu? Acrescentam algo?
...?

Todas estas questões, e muitas mais que entretanto surgem, são importantíssimas da definição de um modelo de jogo adaptado (MJA).
Certamente nenhum adepto do FC Porto, SL Benfica ou Sporting encara com satisfação um jogo onde a sua equipa se limite a tentar defender e explorar o contra-ataque, mas tal concepção do jogo poderá já ser melhor aceite pelo adepto de um clube com menores ambições. Vemos que históricamente o Ajax tem uma estrutura de jogo definida, caberá na cabeça de alguém entrar no clube e dizer "a partir de hoje não é assim, passa a ser como eu penso"?

"O melhor de um jogo de futebol é o que acontece antes do jogo". Sepp Herberger, técnico alemão

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Organização Funcional

“Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na sistematização dessas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo.” (Júlio Garganta)
Chegamos à terceira fase da construção de um modelo de jogo a implementar numa equipa de futebol. Abordaremos a organização funcional do modelo de jogo/equipa.

Entenderemos por organização funcional as características básicas de como uma equipa actua perante determinados momentos do jogo, basicamente será o encaixar e coordenar de todos os princípios e sub princípios inerentes ao modelo que o treinador pretende implementar.

Seguindo a estrutura dos princípios de jogo apresentada no post anterior e adaptada de Queiroz, 1983, sub-dividimos o jogo em momentos base como as acções de ataque e defesa.
É pacificamente aceite entre os treinadores que o jogo tem não dois mas, pelo menos, 4 momentos chave (a ordem inicial é irrelevante já que os momentos se encadeiam e se sucedem):

Momento 1: Organização Ofensiva


Objectivos
- Manutenção da posse de bola
- Criação de acções de progressão e finalização


Fases

Fase
Descrição
Construção da acção ofensiva
Desenvolvimento de jogada com intuíto de progredir no terreno
Criação de situações de finalização
Tentativa de criar situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso
Finalização
Culminar do momento ofensivo, com a finalização

Feliz ou infelizmente, dependendo do banco onde nos sentamos, nem todas as jogadas chegam á fase de finalização. Quando a nossa equipa perde a bola os instantes seguintes são determinantes...

Momento 2: Transição Ataque - Defesa

Estes momentos de transição são tão ou mais importantes que os momentos mais habituais no jogo, ataque e defesa. Dependerá muito de como a nossa equipa se encontra organizada e da cabal compreensão das tarefas que cabem a cada elemento. Não sendo possível que o mesmo jogador ocupe simultaneamente 2 espaços diferentes no campo (aqueles que lhe caberiam nas acções ofensivas e nas acções defensivas) há que criar automatismos que permitam reestabelecer a organização da equipa.
No futebol actual as transições assumem um papel decisivo na batalha táctica.


Objectivos
- Aplicar de imediato o principio específico de CONTENÇÃO
- Permitir a reorganização defensiva da equipa

A partir do instante em que a equipa "desliga" da acção ofensiva e consegue equilibrar-se defensivamente entramos no novo momento do jogo

Momento 3: Organização Defensiva

Objectivos
- Defesa da baliza
- Recuperação da posse de bola


Fases

Fase
Descrição
Impedir a construção da acção ofensiva
Evitar a progressão do adversário
Impedir situações de finalização
Não permitir ao adversário situações que permitam tentar finalizar com hipóteses de sucesso
Defesa da Baliza
Não obtendo sucesso nas acções anteriores temos o último "recurso", defender a baliza

Conseguido 1 dos objectivos do momento defensivo, recuperar a bola e/ou defender a baliza com sucesso, a equipa vai tentar aproveitar o facto de o adversário estar ainda no "desligar" da sua acção ofensiva para tentar ser mais eficaz na construção do seu ataque

Momento 4: Transição Defensa-Ataque

Tal como na transição Ataque-Defesa, este momento pode ser decisivo para o resultado final do jogo, é aliás muito comum ouvirmos que "o adversário aproveitou o facto da equipa estar balanceada no ataque, estar descompensada..."

Objectivos
- Aplicar de imediato o principio específico de PENETRAÇÃO
- Organizar a acção ofensiva com maiores possibilidades de sucesso

Referimos atrás que era consensual a existência de "pelo menos" 4 momentos no jogo, no entanto já ouvi Jorge Jesus, sem data, referir um outro momento, muitas vezes decisivo, a que se dando importância no treino não se refere com parte integrante do que Júlio Garganta referiu "entender o jogo como um fluxo continuo."

Momento 5: Bolas Paradas

Parece-me que Jorge Jesus terá alguma razão, os lances de bolas paradas são, cada vez mais, decisivos no jogo e por terem um tratamento especifico e mais ponderado acabam por ter importância vital em qualquer um dos outros momentos. Não são as bolas paradas alvo de estudo, e treino, ao longo da época? Quantas vezes já ouvimos dizer "um livre à..."? Existe ou não algo de pessoal na forma como pretendemos que a nossa equipa marque/defenda um canto ou um livre?
Juntando a tudo isso ainda temos o facto de um lance de bola parada não ser um momento isolado, já que muitas das vezes não terá um "principio, meio e fim" já que a intercepção da bola e a sua alternância podem significar um novo processo. Quem já não ouviu referir que "fulano" fez falta porque estava na barreira, ou até que o adversário tinha caminho livre porque os centrais foram à área adversária para participarem na marcação de um canto a favor da sua equipa?

Tarefa do treinador é desenvolver processos de treino que permitam à equipa manter-se organizada e funcional em todos estes processos.

Ainda longe de encontrar o modelo de jogo a adoptar, o treinador tem já, por esta altura, um trabalho ainda que invisivel de elevada complexidade...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Principios de Jogo

No post anterior tentamos definir "Modelo de Jogo", abordamos ainda outras terminologias com ele relacionadas. Nos próximos posts a tarefa é desenvolver um pouco cada um desses itens.

Princípios de jogo
 
"Os princípios de jogo e os sub princípios de jogo são comportamentos e padrões de comportamento que o treinador quer que sejam revelados pelos seus jogadores e pela sua equipa nos diferentes momentos de jogo.
Esses comportamentos e padrões de comportamento quando articulados entre si evidenciam um padrão de comportamento ainda maior, ou seja, uma identidade de equipa a qual denominamos de organização funcional" Guilherme Oliveira, 2003

Segundo Queiroz, 1983, os princípios e sub princípios de jogo podem dividir-se em gerais, aplicados a todas as situações de jogo, e específicos conforme o momento do jogo.

Princípios Gerais - Não permitir a inferioridade numérica
- Evitar a igualdade numérica
- Procurar criar a superioridade numérica


Princípios
Específicos
Ataque Defesa
Penetração Contenção
Cobertura Ofensiva Cobertura defensiva
Mobilidade Equilíbrio
Espaço Concentração

Como é que estes princípios e sub princípios se encaixam?
Um exemplo prático
A equipa com a posse de bola, equipa atacante, deverá ter como primeira preocupação verificar se pode ou não desenvolver uma acção que lhe permita criar uma situação de ataque e/ou finalização, vai por isso desenvolver uma acção de PENETRAÇÃO. Por oposição a equipa adversária, equipa defensora, vai desenvolver acções que em primeira instância impeçam a finalização ou a progressão do jogador com posse de bola, vai portanto aplicar o principio defensivo de CONTENÇÃO.
A esta primeira fase segue-se a fase de tentativa organização ofensiva e defensiva, onde as equipas tentam aplicar os princípios gerais, primeiro recusando a inferioridade numérica, surgem as coberturas. COBERTURA OFENSIVA para a equipa atacante que vai tentar criar superioridade numérica, COBERTURA DEFENSIVA para a equipa defensora que tentará evitar a inferioridade numérica, tentando a superioridade.
Assumindo que ambas as equipas conseguem ser eficazes nas acções de cobertura acabam por se encontrar em igualdade numérica. Numa situação de igualdade numérica a posse de bola não é um factor decisivo já que qualquer acção terá resposta adversária, por isso é necessário a encontrar novas zonas para desenvolver a acção de ataque geralmente através de desmarcações, aplicarão o principio da MOBILIDADE. Em oposição a equipa defensora terá de responder às acções adversárias, tentando repor a situação anterior, de igualdade numérica, ou na impossibilidade imediata de o fazer, optar por encontrar uma acção que lhe seja menos desfavorável ou seja de EQUILÍBRIO.
Obviamente que à equipa na posse da bola interessará encontrar linhas de passe, possibilidades de penetração e/ou finalização, logo procurará alargar o seu jogo tentando desequilibrar a equipa defensora, ou seja, criar o ESPAÇO que necessita. Por oposição a equipa defensora tentará evitar as acções de penetração, passe e finalização adversárias tentando reduzir o espaço por onde a bola poderá circular, tentando criar superioridade numérica nessa zona do campo, aumentando as suas hipóteses de recuperação da posse de bola, vai assim desenvolver acções de CONCENTRAÇÃO.

 Facilmente verificamos que estes princípios e sub princípios se aplicam a toda e qualquer equipa, fazem parte do modelo de jogo de todo e qualquer treinador, o que vai diferenciar cada modelo de jogo? A forma como a equipa os aplicará. Surgem os chamados sub princípios dos sub princípios, que terão sub princípios e assim sucessivamente. Resumindo um jogador recupera a posse de bola, logo tentará o principio da penetração, em que moldes desenvolverá o seu jogo? Ataque rápido? Lento? Dribla?  Espera por apoio? É aqui que entram os sub princípios dos sub princípios, caberá ao treinador, perante a sua ideia de jogo, definir padrões para a sua equipa. Do mesmo modo uma equipa que perde a posse de bola aplicará a contenção de que forma?


Estas questões levam-nos ao item seguinte na construção do modelo de jogo para determinada equipa, a forma com os padrões deverão, teoricamente, funcionar. Desenvolveremos no proximo post a Organização funcional.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Modelo de Jogo

O mais importante numa equipa de futebol é ter um modelo de jogo, um conjunto de princípios que dêem organização à equipa. Por isso a minha atenção é para aí dirigida desde o primeiro dia – José Mourinho 2006
Afinal o que é o “Modelo de Jogo”?
Ao contrário do que é usualmente designado pela comunicação social “modelo de jogo” não é a disposição dos jogadores em campo, continuemos com Mourinho
Gosto que a minha equipa seja uma equipa com posse de bola, que a faça circular, que tenha muito bom jogo posicional e que os jogadores saibam claramente como se posicionarem. Aliado a isso, defender bem e ter qualidade individual (o que marca determinados momentos do jogo) também são factores cruciais. Um bom posicionamento defensivo enquanto equipa, formando um bloco compacto que possa jogar com linhas muito juntas é outra das características das minhas equipas – Jose Mourinho 2002
Independente da disposição dos jogadores (sistema táctico), que nem sequer é referida nos excertos, percebemos como José Mourinho encara o jogo. Posse de bola, bom jogo posicional, bloco compacto com linhas juntas e de preferência com jogadores de boa qualidade individual.
A partir desta concepção pessoal do jogo, diferente de indivíduo para indivíduo, de treinador para treinador, que condiciona a forma como cada um de nós encara e vê um jogo, formular-se-á uma ideia pessoal de como jogaria a “nossa” equipa. O "Modelo de Jogo" será um conjunto de principios e sub-principios que traduziram uma determinada dinâmica à equipa e à forma como esta de portará em campo.
E aqueles treinadores que estão sempre a mudar?
Não existem treinadores desses…
Não acreditam? Ora vejamos, ninguém muda a forma com vê o mundo de um dia para o outro, mudamos de casa, carro, roupa e até de visual. O que não mudamos nunca é aquilo que somos. Com um treinador de futebol acontece exactamente o mesmo, muda-se de clube, de equipa, de jogadores, a disposição desses jogadores, às vezes até o estilo de jogo.
Isso não é mudar de modelo de jogo? Não, tal como na vida adaptamo-nos e evoluímos. No entanto qualquer pessoa atenta ao fenómeno futebolístico reconhecerá características comuns nas diversas equipas por onde um treinador vá exercendo a sua profissão.
Cada treinador, do mais inexperiente até ao que mais títulos venceu, tem a sua ideia de jogo e vai colocar em todas as suas equipas algo de pessoal (e intransmissível).
Esta é a primeira tarefa de um treinador (de futebol ou de outro qualquer desporto), definir aquilo que para si é a “perfeição”. Este pequeno mas importantíssimo passo é muitas vezes ignorado ou subavaliado.
Diremos então que “Modelo de jogo” é algo abstracto, idealizado na mente do treinador, que traduz a sua visão muito particular daquilo que deve ser o jogo. Mais que o sistema táctico engloba a organização dinâmica da equipa, a forma como se deverá comportar, as relações entre elementos da equipa e os adversários perante cada situação no jogo.
Tudo muito bonito mas… “definir aquilo que para si é a ‘perfeição?”?
Obviamente. Se não existir uma ideia do ideal nunca se vai poder extrair o melhor da realidade. Como disse atrás um treinador adapta-se e evoluí, no fundo usa os recurso que tem e tenta molda-los, e moldar-se, para no final obter uma clarificação do que será o “modelo de jogo adaptado (MJA)” para a equipa em concreto.
Imaginemos um inicio de época num novo clube onde o treinador terá de conciliar, entre outros aspectos:
- Jogadores disponíveis e suas características
- Condições de trabalho
- Realidade social e cultural do clube
- Expectativas de direcção e adeptos
A partir desse momento  desencadear-se-á um processo de adaptação mutua entre treinador e realidade.
Partindo do seu Modelo de Jogo, o processo será:





Modelo de Jogo do treinador
+
Principios e sub-principios
+
Organização funcional (como funcionará a dinâmica da equipa)
+
Conjuntura social e estrutural do clube
+
Caracteristicas dos Jogadores
+
Organização estrutural da equipa (sistema de jogo)
=
Modelo de Jogo Adaptado ou Adoptado (MJA)


Será o Modelo de Jogo Adaptado a base sobre a qual o treinador desenvolverá todo o seu trabalho, desde a concepção dos treinos até à eventual escolha de jogadores a contratar/dispensar, culminando, obviamente, no desenrolar do jogo que será avaliado pelos adeptos e resultados.

Como o processo é interminável, a cada nova situação o treinador reiniciará o ciclo, partindo do seu modelo de jogo, entretanto enriquecido pela própria experiência e por influências externas, e adaptará a sua equipa para o novo desafio.



O objectivo deste blog será desenvolver o futebol sob esta prespectiva, até breve

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Apresentação

"Através da maneira de jogar das minhas equipas, eu falo da sociedade em que gostaria de viver!"
César Luis Menotti (Treinador argentino, campeão do mundo em 1978)





No Modelo de Jogo abordaremos o futebol "invisível" que acontece durante a semana por esses campos fora, os treinos, a formação, o pensar futebol na sua globalidade.